terça-feira, 20 de outubro de 2009
ESTÉTICA E ESSÊNCIA: O VISUAL BOLIVIANO E A CULTURA VISUAL
Ahn Bolívia… estou encantado com esse país. De Santa Cruz de la Sierra, terras tropicais com um calor tão intenso quanto ao de Mato Grosso do Sul, à Potosí ou La Paz, cidades inclinadas de um altiplano de montanhas e temperaturas agudas, passanso pela região dos vales, como Sucre e Cochabamba, onde as montanhas bailam feito ondas para dar espaço a um grande buraco plano onde se formam as cidades ou os povoados de clima moderado. Bolívia é um país literalmente constituído por contrastes, contém pelo menos esses três principais tipos de formação arqueologica e de clima, com suas variações: pantanal, amazônico, região de vales altiplânicos, altiplano e Cordilheira dos Andes, etc, conferindo uma grande variedade de riquezas naturais, que é para os olhos um colírio de muitas cores. Do ponto de vista da cultura visual da população, por um lado, as roupas das marcas, em seu estilo clássico de padronificação moderna, com seus jeans e sintéticos por exemplo; por outro, as especificidades do caráter visual da cultura andina que se vê aparente, principalmente, nas senhoras “Cholas” e seus “niños”, mas também na maior parte dos “campesinos originários” e nas danças tradicionais. Essas senhoras carregam nas costas seus bebês, alimentos, objetos e a afirmação de uma cultura visual riquissíma e autêntica, em cores e formas. Afirmam-la através do formato de seus corpos, quase sempre gordinhos por uma alimentação constituída majoritariamente de carboidraros; através de suas roupas, que misturam cores quase florescentes ou brilhantes com formas quadradas que lhes dão um caráter sutilmente masculino; através de suas tranças e seus belos chapéus, alguns dos quais parecem que cairão a qualquer momento, pois são posicionados sobre a ponta da cabeça como a Torre de Pisa sobre o solo italiano. Nos “pueblos campesinos”, são as mãos dessas senhoras que tecem os tecidos, que carregam baldes de águas, às vezes por quilometros, que fazem as comidas, às vezes para um batalhão. Seus maridos trabalham no campo ou nos “serviços pesados” como construir casas de adobe ou de tijolos de barro, onde moram. Seus filhos costumam ajudar nas tarefas domésticas, no campo ou na casa, ou saem para vender as comidas ou as artesanias. São esses campesinos “sencillos” que fazem a força e a resistência da tradição andina.
Em contraste, as cores e formas da cultura visual andina também chegou à cidade: por êxodo do campo, através de pessoas que mantêm ou não sua cultura visual; ou pelos “jovens pequeno-burgueses”, como chamam na praça “14 de septiembre” de Cochabamba, jovens que sincretizam as duas tradições em seu corpo dizendo tentar resgatar sua cultura. Mas esta tentativa de resgate cultural é um dos efeitos conscientes da revolução cultural boliviana? Visualmente, apesar de incorporarem algumas peças produzidas pelos campesinos origirários, não o fazem totalmente, recusando o corpo gordo e as formas quadradas, tentando manter as curvas e a sensualidade, e de forma a utilizar as peças tradicionais para acentuá-las, num caráter de valorizaçao do corpo tipicamente moderno-contemporâneo, um corpo que deve ser magro, mas peitudo e bundudo, seus cabelos e seus sapatos devem ser assim como os das resvistas de moda e das propagandas de televisão. Contudo, o fazem buscando elementos de sua raíz cultural, o que configura o discurso de revolução cultural através da revalorização, renascimento, da cultura tradicional andina, amalgamada nas roupas, nas músicas e nas danças; mas há também seu caráter principal, o político.
Na verdade, essa face cultural-artística da revolução cultural é aceita ou compartilhada por quase todos bolivianos, até mesmo os citadinos, uns mais outros menos, tanto velhos quanto jovens. No entanto, o caráter político da revolução cultural, essencialmente campesina, tem sua força e síntese numa frase de confrontração deste movimento campesino-originário: “Usteds queren: vivir mejor! Y nosostros queremos: vivir bién!”. Isso demonstra uma profunda diferença enquanto sentido de vida. Isso significa matar a idéia de progresso capitalista como ela se configura, hoje escondida no sentido comum da palavra desenvolvimento e seus adjetivos. Essa verdadeira radicalidade política na revolução cultural boliviana é o que impulsionou a criação da “Nueva Constituición Federal de Bolivia”, feito realizado pelo governo Evo Morales.
Muitos campesinos originários, em seus “pueblitos”, ainda vivem a lógica de socialização das coisas; contudo, atingidos, cedo ou tarde, pela expansão interna do Estado privatista e das relações sociais capitalistas, começam a ganhar a consciência de sua estrutura, percebendo a importância de interfir no sentido tentar manter sua autonomia, mas com a inevitável integração. Com os “procesos de cambio” da reforma do Estado enquanto pluri-nação se tenta, dentro da estrutura de um Estado Liberal de Direito, construir um país de maior de socialização, através deste conceito de “autonomias”, que é um termo ambigüo que não toca organização da forma e da socialização da produção, podendo ser sim um começo de transformação da forma do Estado, mas ainda segue dando estrutura de gestão ao progresso do capital e à sua lógica de auto-valorização, que pode ser uma perversão da lógica de socialização que não ataca a estrutura e o sentido da produção capitalista.
No entanto, apesar das reformas de Morales, parte do movimento originário campesino continua revolucionário. Se arma com a educação moderna e com a coragem e a união de pessoas que sabem o que querem, pois não tiveram seu trabalho alienado da essencia das coisas, sabem o que é necessidade e o que necessitam, e agora começam a saber o que é capitalismo e o por quê de tanta destruição. Talvez seu principal oponente hoje, com o qual lutam, seja o legalismo e seus efeitos sociais, pois se o direito liberal é justamente o que constituí a forma do Estado moderno, um direito que tem em sua fonte e em sua resolução a propriedade privada torna contraditória a socialização dos bens humanos e naturais, tanto da terra e dos meios de produção, como da governança dos aspectos da vida que interferem as pessoas em seus meios, os julgamentos morais e penais e a participação administrativa e cultural de todos. Por hora só lhes resta explorar a estrutura plurinacional do Estado, mas lutando por mais consciência e capacidade de transformação.
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