quarta-feira, 21 de outubro de 2009
REFLEXÕES FILOSÓFICO-POLÍTICAS 2
A obstrução do amor é causada pelo medo. É o medo de ser obstruído pelos limites externos, do Mundo; é o medo de não poder realizar as potencialidades da vontade. Mas meu Pai sempre foi teimoso ao amar.
Há algum tempo ronda o mundo um espírito de justiça, um impulso impiedoso que teima à liberdade. Por algum tempo se vê essa vontade cristalizada num movimento ideológico-político genericamente intitulado de Esquerda. A consolidação de sua posição enquanto oposição antitética à chamada Direita liberal a conformou como mecanismo de função reformista, que se realiza como manutenção e para o desenvolvimento do sistema Moderno de coisas.
A liberdade moderna é liberal, libera, individualiza, especializa, mas também aliena. A esquerda tentou ir ao seu constrário, à socialização, mas sua socialização seguiu no sentido de ser apenas a causa para o desenvolvimento e a sofisticação das instituições que garantem as liberdades individualizantes – o Estado Moderno, o Capitalismo e a sociabilidade mercantilizada. A esquerda em sua crítica e busca por socialismo foi apropriada pelo próprio sistema, possibilitando a reforma constante das intituições que dão sustentabilidade ao atual estado de coisas. Além disso, por sua condição de disputa por poder, as tentativas reais ao socialismo não culminaram em mais que Capitalismo de Estado e Estado de opressão.
Mas agora há um elemento que ganha cada vez mais destaque no pensamento humano: a Grande Mão, Mãe Terra, Pachamama, começa a dar sinais de perigrosas alterações. E os Homens, que garantem sua liberdade individual sustentando seu poder na lógica de consumo da Mão Terra, devem sentir e sentirão medo. Mas o medo também é bom, é catabolizador de transformações.
Assim, vejo duas coisas importantes ganharem força: a primeira, a valorização do meio ambiente, que, numa concepção ampla, tira os olhos do Homem de seu próprio umbigo, sensibilizando-lo; a segunda, a necessidade de adequação do pensamento e da realidade numa lógica de rede autonomica, o que significa a saída de um pensamento vertical de oposiçao e a entrada em um pensamento horizontal e diversificado.
No tocante a esta última questão, um exemplo que me aponta em essa direção é o até agora chamado Estado Plurinacional. Apesar de ainda ser pautado por lógicas de progresso capitalista, segue no sentido da descentralização e desconcentralização do poder; é força das sociedades campesinas-originárias da America Latina exigindo a participação direta no executivo, legilativo e judiciário, buscando-lo a partir de suas autonomias subjetivas. Estas idéias, de certa forma já expostas pelo pensamento político de Bakunin, têm como expressão hoje as reformas constitucionais de alguns países latino-americanos e africanos; têm sua força cristalizada nos movimentos americo-indígenas e tribais que ainda não tiveram seus corações alienados da realidade concreta.
Ainda não sei qual vai ser o seu poder de criação frente as necessidades de adaptação aos problemas gerados pelo capitalismo, suas instituições e suas relações de poder. Mas sei que por hora é o único caminho que me leva a ter fé, a ter vontade de lutar até as últimas conseqüências. É o que pra mim parece mais sensato e viável hoje, mas que deve ganhas força ao ponto de poder transformar as bases economicas da sociedade; caso contrário corre o risco de ser mais um projeto falido e reformista em direção ao socialismo.
REFLEXÕES FILOSÓFICO-POLÍTICAS 1
Hoje fui ao primeiro debate da CLASCO…
Tema: “La isquierda hoy: balance, desafios y perspectivas”.
… e pude perceber por onde andam as idéias e as minhas idéias.
Dentro do que concerne às minhas tensões, percebi que as idéias ainda permeam a questão do progresso e dos movimentos políticos e sociais ao progresso. Continuam a reificar o discurso que opõe direita e esquerda nas análises feitas da condição política latino-americana. Enquanto análise que tenta chegar ao real, bem! As apresentações foram, para mim, um bom debate envolvendo as questões que tocam os movimentos políticos históricos atuais: Democracia, Neoliberalismos, Globalizações, Integrações Regionais, movimentos campesinos originários, Esquedas, crise hegemônica, assim como a citação da questão do meio ambiente como um apêndice da esquerda do progresso. Mas já se esqueceram de indagar-se sobre o que é a emancipação a partir do presente?
Por hora, para mim, a resposta a essa pergunta vai em direção à morte deste progresso, tanto da Direita como da Esquerda. Esse progresso, em umas de suas faces originais, constituí o impulso de dominação técnica da natureza. Entorpecidos pelo medo do poder da Natureza, pelo temor a Deus, incapazes de entender-lo(s), impulsionamo-nos a uma tentativa desesperada por controlá-los, voltamos nossas mãos à(s) matéria(s), tranformando sua(s) potência(s) em poder. Mas, nesta passagem de entendimento a controle, entorpessemo-nos pelo sentimento de prazer de nos parecer seguros – o poder de poder. E a partir disso se forma uma das faces da mitologia da liberdade moderna: somos livres porque podemos controlar a Natureza, porque matamos o poder de Deus, porque, supostamente, agora somos Sujeitos e Proprietários da história. Ao invés de tentarmos entender e viver em comunhão com as leis das coisas, criamos nossas leis em função da justiça de um progresso material pautado por um privatismo e individualismo concentrador e centralizador de poder, que tem em sua lógica intrínseca de crescimento a necessidade de artificialização continua das coisas. Dando instrumentalidade política ao sistema, as funções indeológicas de “Direita” e “Esquerda” surgiram apenas como diferentes modos de buscar a opulência material humana, que dentro de uma dicotomia pisicológica poderíamos oposicionar seus efeitos em egoístas e altruístas, sendo que suas causas tem sempre o mesmo objetivo – o poder do Homem. Até quando o controle do corpo social vai aguentar as consequências dessa insaciável vontade de consumo (destruição) do corpo natural?
Continuamos a adorar essas idéias passadas, de forma a sempre conformá-las quando adornamo-las com as “riquezas” que o progresso econômico impõem para esocnder nosso medo do natural. Tomamos a droga de achar que inventamos a história e nos viciamos nas pilulas de farinha da ilusão. Tomamos-la denovo e denovo no governo de nosso dia-a-dia, talvez inconscientemente, mas sempre reificando uma estrutura que oprime a liberdade do corpo humano em seu medo por consciência-moral. Fim a este progresso! Pois ele significa apenas um constante êxodo, um movomento de fuga de nós mesmo, como alguém que não sabe de onde veio e muito menos para onde está indo, então não sabe o que é.
“Now you have what you want, but you want more”.
“We sing it for freedom, just few it in the music… sentiment is free… this is the thru equalit”.
Bob Marley
Veja a contradição aparente: busco desenvolver as ciências humanas e, assim, sirvo, sem escolha, ao progresso do poder. Mas veja também minha intenção: tento descolar do progresso material e viso o desenvolvimento cosnciente-moral, sob o qual o que devemos liberar são os sentimentos e o corpo, individual e sosial, deixar de dissuadi-los com uma razão sem sentido para pocurar o sentido da razão a partir do próprio corpo. Teríamos que nos voltar a uma nova re-ligação?
CARTA AO PAPAI E À MAMÃE
La Paz, quase 4 mil metros de altitude. É o segundo dia que estou aqui e sigo sofrendo por Sorojchi, nome dado aos efeitos causados pela altitude: febre, dores de cabeça e de estômago, diarréia (efeitos que duraram por dias). Nestes momentos de dor sempre lembramos daquele colo que acalenta, que, mais que curar a enfermidade física, produz aquela sensação de segurança de que tudo passa. Nesse momento “solito”, a força já não pode vir de fora, senão que de dentro, por vontades e memórias. Neste momento lembro de vocês Papai e Mamãe, que me conceberam e me criaram com tanta força, sinceridade e carinho, que fazem minha inspiração pelo mundo possuir essa mesma tanta força, sinceridade e carinho. Nesses momentos de dor, de concebimento e criação, lembro do Pai criador, cuidadoso e persistente, lembro da Mãe atensiosa, que ouve e alimenta, mesmo que sofra; e justamente lembrando destes princípios que busco minha segurança – sua síntese: um amor incondicional.
REFLEXÕES PISICO-FILOSÓFICAS
Certo dia senti-me apunhalado por uma força, um grito que ressoava por dentro do peito, chegava ao crâneo e estremecia-o, era uma fome, não sei se minha, não sei se dos olhos que me tocavam, mas me sei que me comia, me sei que me doia. Era um medo profundo, um medo da morte, de se sentir morrendo sem perceber, um medo inconsciente, hora com cansaço de viver, hora com ânsia por ela; um sentimento de que falta sentido ou de estar sendo devorado por um sentido que não se ouve, não se vê, não se degusta – um sentido que está tão longe qua já perdeu o sentido.
A causa: A cada dia me dou mais de cara com o moinho da vida. Me vem à consciência seus processos, mas também seus rostos e olhares, e me pergunto: somos somente essa massa que o destino modela? Ao ver a dor, não me sei como me acalmo, não me sei como me desespero. Nesta indecição, o que faço é buscar respostas: De onde vem a dor?
Deu vontade de ir ao fim do mundo, perguntar aos Deuses, encará-la na cara.
Daí revelou-se a viagem destas memórias. Foi tão forte aquele sentimento que me fez querer mover montanhas. Minha vida começou a ser motilizada – vou em busca de uma morte e de um renascimento, vou em busca da Força. Mas o esforço de mover o real só se realiza entendendo-lo, como se diz: “o barato é louco e o processo é lento”.
A força mirou meu destino nos meandros da América do Sul, apontou-me o poderoso Andes e a selvagem Amazônia, é lá onde me devo. Ouço a força sussurrar sons e silêncios em mim, me sinto em um retorno a origem, a luz, a natureza. Estremeço-me denovo – me parece um sentimento demasiado romântico. Neste momento me salta aos olhos os apegos do espírito humano.
Por um lado, o corpo individual humano. Volto-me às pessoas que me dão segurança. Lembro-me de todo amor que envolve as delicadezas do dia-a-dia, mas que, ao mesmo tempo, é um circulo vicioso de dependências. Vejo que as dependências existem num encadeamento natural, mas também construído. A questão então é: Por que dependente? A realidade do corpo, toda sua gama de sentimentos e necessidades, deve envolver-se pela liberdade da mente, e aí é amor.
Por outro lado, o corpo social humano. Há uma série de instituições que dão corpo ao corpo social – a Família, a Sociedade, o Estado, a Economia, a Cultura, a Religião, as Ideologias, a Ciência, etc. Simplificadamente, estas intituiçoes, que são abstratas e concretas, existem, então, em dois mundos interconectados: o mundo das idéias e o mundo das matérias. As relações conflitiva e cooperativa nestes mundos e entre eles constroem a realidade. O poder de materialização é sempre o limite às potencializades das idéias. A questão então é: Há controle do poder real? Por quem? Por mais que as atuais instituições se desenvolvam num sentido de controle da vida, há uma força que o nega a todo momento: o próprio entendimento impulsiona à destruição de si mesmo. E é a ilusão que leva ao eterno fascíneo de nossas instituições, e que as mata pouco a pouco.
terça-feira, 20 de outubro de 2009
ESTÉTICA E ESSÊNCIA: O VISUAL BOLIVIANO E A CULTURA VISUAL
Ahn Bolívia… estou encantado com esse país. De Santa Cruz de la Sierra, terras tropicais com um calor tão intenso quanto ao de Mato Grosso do Sul, à Potosí ou La Paz, cidades inclinadas de um altiplano de montanhas e temperaturas agudas, passanso pela região dos vales, como Sucre e Cochabamba, onde as montanhas bailam feito ondas para dar espaço a um grande buraco plano onde se formam as cidades ou os povoados de clima moderado. Bolívia é um país literalmente constituído por contrastes, contém pelo menos esses três principais tipos de formação arqueologica e de clima, com suas variações: pantanal, amazônico, região de vales altiplânicos, altiplano e Cordilheira dos Andes, etc, conferindo uma grande variedade de riquezas naturais, que é para os olhos um colírio de muitas cores. Do ponto de vista da cultura visual da população, por um lado, as roupas das marcas, em seu estilo clássico de padronificação moderna, com seus jeans e sintéticos por exemplo; por outro, as especificidades do caráter visual da cultura andina que se vê aparente, principalmente, nas senhoras “Cholas” e seus “niños”, mas também na maior parte dos “campesinos originários” e nas danças tradicionais. Essas senhoras carregam nas costas seus bebês, alimentos, objetos e a afirmação de uma cultura visual riquissíma e autêntica, em cores e formas. Afirmam-la através do formato de seus corpos, quase sempre gordinhos por uma alimentação constituída majoritariamente de carboidraros; através de suas roupas, que misturam cores quase florescentes ou brilhantes com formas quadradas que lhes dão um caráter sutilmente masculino; através de suas tranças e seus belos chapéus, alguns dos quais parecem que cairão a qualquer momento, pois são posicionados sobre a ponta da cabeça como a Torre de Pisa sobre o solo italiano. Nos “pueblos campesinos”, são as mãos dessas senhoras que tecem os tecidos, que carregam baldes de águas, às vezes por quilometros, que fazem as comidas, às vezes para um batalhão. Seus maridos trabalham no campo ou nos “serviços pesados” como construir casas de adobe ou de tijolos de barro, onde moram. Seus filhos costumam ajudar nas tarefas domésticas, no campo ou na casa, ou saem para vender as comidas ou as artesanias. São esses campesinos “sencillos” que fazem a força e a resistência da tradição andina.
Em contraste, as cores e formas da cultura visual andina também chegou à cidade: por êxodo do campo, através de pessoas que mantêm ou não sua cultura visual; ou pelos “jovens pequeno-burgueses”, como chamam na praça “14 de septiembre” de Cochabamba, jovens que sincretizam as duas tradições em seu corpo dizendo tentar resgatar sua cultura. Mas esta tentativa de resgate cultural é um dos efeitos conscientes da revolução cultural boliviana? Visualmente, apesar de incorporarem algumas peças produzidas pelos campesinos origirários, não o fazem totalmente, recusando o corpo gordo e as formas quadradas, tentando manter as curvas e a sensualidade, e de forma a utilizar as peças tradicionais para acentuá-las, num caráter de valorizaçao do corpo tipicamente moderno-contemporâneo, um corpo que deve ser magro, mas peitudo e bundudo, seus cabelos e seus sapatos devem ser assim como os das resvistas de moda e das propagandas de televisão. Contudo, o fazem buscando elementos de sua raíz cultural, o que configura o discurso de revolução cultural através da revalorização, renascimento, da cultura tradicional andina, amalgamada nas roupas, nas músicas e nas danças; mas há também seu caráter principal, o político.
Na verdade, essa face cultural-artística da revolução cultural é aceita ou compartilhada por quase todos bolivianos, até mesmo os citadinos, uns mais outros menos, tanto velhos quanto jovens. No entanto, o caráter político da revolução cultural, essencialmente campesina, tem sua força e síntese numa frase de confrontração deste movimento campesino-originário: “Usteds queren: vivir mejor! Y nosostros queremos: vivir bién!”. Isso demonstra uma profunda diferença enquanto sentido de vida. Isso significa matar a idéia de progresso capitalista como ela se configura, hoje escondida no sentido comum da palavra desenvolvimento e seus adjetivos. Essa verdadeira radicalidade política na revolução cultural boliviana é o que impulsionou a criação da “Nueva Constituición Federal de Bolivia”, feito realizado pelo governo Evo Morales.
Muitos campesinos originários, em seus “pueblitos”, ainda vivem a lógica de socialização das coisas; contudo, atingidos, cedo ou tarde, pela expansão interna do Estado privatista e das relações sociais capitalistas, começam a ganhar a consciência de sua estrutura, percebendo a importância de interfir no sentido tentar manter sua autonomia, mas com a inevitável integração. Com os “procesos de cambio” da reforma do Estado enquanto pluri-nação se tenta, dentro da estrutura de um Estado Liberal de Direito, construir um país de maior de socialização, através deste conceito de “autonomias”, que é um termo ambigüo que não toca organização da forma e da socialização da produção, podendo ser sim um começo de transformação da forma do Estado, mas ainda segue dando estrutura de gestão ao progresso do capital e à sua lógica de auto-valorização, que pode ser uma perversão da lógica de socialização que não ataca a estrutura e o sentido da produção capitalista.
No entanto, apesar das reformas de Morales, parte do movimento originário campesino continua revolucionário. Se arma com a educação moderna e com a coragem e a união de pessoas que sabem o que querem, pois não tiveram seu trabalho alienado da essencia das coisas, sabem o que é necessidade e o que necessitam, e agora começam a saber o que é capitalismo e o por quê de tanta destruição. Talvez seu principal oponente hoje, com o qual lutam, seja o legalismo e seus efeitos sociais, pois se o direito liberal é justamente o que constituí a forma do Estado moderno, um direito que tem em sua fonte e em sua resolução a propriedade privada torna contraditória a socialização dos bens humanos e naturais, tanto da terra e dos meios de produção, como da governança dos aspectos da vida que interferem as pessoas em seus meios, os julgamentos morais e penais e a participação administrativa e cultural de todos. Por hora só lhes resta explorar a estrutura plurinacional do Estado, mas lutando por mais consciência e capacidade de transformação.
POR LA CARRETERA DE POTOSI
El viento viene, el viento se vá
Por la carretera
Navios llegan en las tierras de a cá
Navios mercantes com la cruz y la espada
Por la carretera
Descubriéron Potosi y el ciclo de la plata
Hubo brazos de amerindios e también de Africa
Por la carretera
La dominación explota nostra rica vaca
Derramamiento de la sangre y también de la lágrima
Por la carretera
Poco a poco come el cerro la ganancia de la rata
Ya se fue la plata, el estaño y el zinc és ahora
Por la carretera
Así se desarrola el hombre capitalista
Sacando nuestras riquezas por vias imperialistas
Por la carretera
És las venas abiertas de America Latina
És la consumisión de la Pachamama
Por la carretera
Su hambre viene, ese hombre se vá!
UMA SEMENTE NASCENDO
No momento estou en Valle Grande, cidade onde Ernesto Che Guevara foi enterrado. Meu início na “ruta del Che” foi em La Higuera. Perto deste povoado, em 8 de outubro de 1967, em “La quebrada del Churo”, Che e seu grupo foram capturados; nele Che foi morto em uma escola que hoje é museu. Depois de morto, no dia seguinte de sua captura, seu corpo foi trazido à Valle Grande e exposto como um troféu pela ditadura que governava o país na época. Aqui estou eu refazendo a rota dos últimos dias de vida do Che. Aqui estou eu tentando reviver a história, uma história que soa como um eco na história, pois a força dos ideais e das ações de Che ainda brilha, como um sol que da luz e calor aos corações. Revivo, então, a “ruta del Che”, mas me sinto não na de seus últimos dias, senão que na do nascimento “del Che”, em seus tempos de ‘Diários de Motocicleta’. Contudo minhas tranformações e minhas visões são, obviamente, diferentes da dele.
Até agora vejo uma Bolívia fervendo, mas tranquila; em frequente atividade política, mas sem guerrilha. São “pueblos” simples, com muitas casas feitas de barro, mas sempre num clima de solidariedade, de comunidade. Dizem aqui que nenhum boliviano morre de fome, diferente do que acontece em minha terra natal. Aqui há muitas pequenas propriedades, nas quais as pessoas vivem mais perto da terra, da “Pachamama”. Aqui sinto a semente de um ideal nascendo.
Por mim seria como um anarquismo, conferendo liberdade e autonomia aos homens com a idéia de que a terra é comum a todos, que é dever de todos cuidar-la, fazer-la compartilhar e crescer; e não estou falando de desenvolver mais a tecnica de domínio da natureza, senão que de compartilhar a tecnica que temos entre os homens e mesmo com a própria natureza. Não necessitamos mais domina-la e consumir-la, mas saber-la e viver-la. Devemos matar a idéia de progresso. O desenrrolar da humanidade deve ter em sua estrutura o caráter de cooperação. Para tanto devemos viver com a natureza, e não com os enlatados; viver com os instrumentos, produzir os sons, e não apenas reproduzir-los. Chega dessa história. Devemos chegar mais pertos da fonte de contrução do mundo. Mas só poderemos fazer isso se olharmos a história, a partir do presente, criando algo realmente novo, que brilhe ainda mais forte que a idéia que conhecemos de comunismo, pois assim brilhará também mais forte que o capitalismo; que seja síntese e não mais antítese.
E devemos fazer-lo, pois se não o capital e sua lógica alienação e de consumo, destruição, engulirá todas as matas, as águas, o ar e os minerais; engolirá a capacidade de transformação da mãos da grande maior parte humanidade, pois estará governada e controlada por um poder central, do Estado e das Coorporações, enquanto um recria a lógica de auto-valorização e o outro a legitima fazendo as manutenções necessárias para que exploda.
Aqui estou eu tentando matar a lógica de progresso entendendo-me, tentando matar o individualismo autonomizando-me socialmente recria a lógica de auto-valorização.
HASTA LUEGO GINGER`S PIRADISE
Después de la puente colgante de Bermejo, entre Santa Cruz y Sucre en la antigua ruta, llegué al mundo de Ginger`s Paradise. Ese no és cualquer mundo, pero un lugar donde se viven en la organicidad de la naturaleza, su tiempo y su logica, un mundo que tiene la construyción hecha por las manos de Cristovan, Sol, Nova, Dzi y Ginger. El alimiento y casi todas las cosas tienen su vida desarrolada en el lugar mismo y con el contacto ditecto de ellos, lo que significa que no hay trabajo enajenado, que donde trabajan és donde viven y así tranforman la naturaleza entendendola. Todo el processo, de la semilla a basura, és consciente. Llegar en eso lugar y vivir intensamente el contacto con todo eso me hizo mi corazón más tranquilo, mis oídos y mis ojos más despiertos, mis sonidos y colores más límpios. Me hizo sentir la arte de la realidad misma, no solo raciocinala na no possibilidad de la práxis. La senti en las manos, la miré como seíndo una cronstrucción de nosotros, una construcción donde la cacidad y los peligros de tranfornación de las manos humanas son conscientes. Lllegar allá me permitió percibir cuanto eso sentimiento és importante, pués así podemos idealizar y realizar, sin la guerra de buscar el cambio de todo el mundo, pero en la paz con todo un mundo possible y real.
Muchas gracias por haceren lo que hacen para si,
Pués el amor con que plantan semillas también plantó una en mi alma.
sexta-feira, 11 de setembro de 2009
Um de meus olhos sobre a Bolivia
Era uma vez um samba. Um samba de Chico Buarque de Holanda. Diz ele que foi à Lapa para fazer uma homenagem, um samba àquela malandragem, mas chocou-se, pois as pessoas que formavam sua engrenagem já não existiam mais. Agora têm que trabalhar, na lógica de sujeitar sua força e sua potência às leis do capitalizar. E então o malandro mudou de classe e mudou de nome. Agora sob uma nova face, a face do Bem, das leis e do trabalho, esse malandro esbanja poder, dinheiro e paga salários – salários de fome, fazendo daquilo que era um homem seu cachorro domesticado. Assim se deu a morte do malandro da Lapa, assim morreu sua criatividade, assim domou-se sua vadiagem.
Mas em Santa Cruz - Bolivia a coisa é diferente. Por enquanto não vejo grandes coorporações, não vejo grandes redes de lojas ou supermercados, não vejo McDonalds. Mas vejo pícaros e maleantes, com criatividade e agilidade de espantar, de surpreender turistas, que vêm aqui aproveitar todo o dinheiro que, na Europa e nos Estados Unidos, ou até mesmo no Brasil, está a sobrar. E assim se tranfere um pouco de tecnologia aos países pobres. São câmeras fotograficas de última geração, são celurares, notebooks e até a documentação. Mas, infelizmente, a incorporação desta tecnologia só vem por essa via, ou pela via do consumo dos que aqui andam com super caminhonetes ou limosines, dos que pagam suas compras em dólares, nas lojas que só cotam seus preços assim.
Mas aqui também tem gente honesta. Gente que não se dá ao luxo à televisão, gente que enche as praças às noites, aos domingos, aos feriados. Gente que senta à beira da rua, gente que mira e da valor a sua cultura. Gente à assistir concertos musicais públicos, gente que os assiste sem precisar de cerveja, gente num caminho lúdico-simples. E as manifestações aqui ocorrem todos os dias, sejam políticas, culturais ou meramente pessoais, pois é na rua que as pessoas estão e é dela que retiram com o que viverão. Mas há aqueles que reclamam: “Os bolivianos são preguiçosos, não querem trabalhar. Deviamos trabalhar pelo menos 12 horas por dia, só assim é possível o progresso, só assim é possível capitalizar”.
Santa Cruz é o departamento mais rico da Bolivia, aqui se produz a maior parte dos produtos agricolas e industriais, aqui está a maior parte da produção de petróleo e gás natural da Bolivia dos dias atuais. Aqui está a maior parte dos brancos e mestiços, ou os sem nenhuma autoindentificação sengundo o senso do povo originário ou indígena da Bolivia, no qual constam os Quechuas, os Aymaras, os Guaranís, os Chiquetanos, os Mojeños e outros nativos, com forte maioria dos dois primeiros na totalidade da população boliviana. Aqui percebi também posições contrárias e favoráveis à Evo Morales e suas políticas. Os de raíz indigena costumam ser favoráveis à Evo e à exaltar sua vida pessoal. Muitos brancos e mestiços de maior poder aquisitivo, que ficam em cafés discutindo os processos políticos atuais, enquanto os com algum sangue indigena trabalham, costumam defender as posições anti-Morales e liberais. Há também os que simplesmente se calam. Tudo isso segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas da Bolivia, minhas próprias percepções em minhas experiências e conversas pessoais com ricos e pobres, numa quantidade não tão extensa como numa pesquisa científica “legítima”.
No momento ainda me pergunto: O que é a Bolivia, sua história, seu povo, sua cultura? Para onde está indo com o governo de Morales, com sua nova constituição e a nova consciência política de seus povos? Quais são as forças políticas que realmente a determina hoje? Quem produz o que a Bolivia produz como isso é distribuído?
Os que reclamam não sabem ainda o trauma de apenas ser mais um a se explorar, de dedicar sua energia a coisas que não voltam às mãos, numa lógica de consumo, de destruição, da atenção, do tempo e da emoção, mas também de toda construção, selando a morte da criatividade e da tradição, que sempre cai em descontrução para dar lugar a algo mais “moderno”, que vai ter mais valor e mais vapor, mais poder centralizado. Dizem estes: “Vou para os Estados Unidos buscar minha liberdade”. Respondo eu: “Vai com Deus irmão, mas talvez veja o significado da escravidão”.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
Uma fé iluminista no amor.
O fogo. O fogo queima. O fogo destrói. O fogo transforma a matéria em fumaça. Mas do fogo emana luz; o fogo aquece. E assim o fogo permite à vida. O fogo acontece em mim. O fogo acontece tão forte em mim, que eu, quando aconteço, quero ser fogo, quero acontecer em não-matéria e tranformar a matéria em terra. E, quando estiver em terra, a terra nutrirá, da terra sairá a vida - uma nova vida acontecerá. Com o calor daquele fogo, toda a água evaporará, se renovará. Quando o vento à água juntar, seu destinho será chover, e, assim, hidratarei a vida que acontecerá. As sementes irão brotar, irão se multiplicar, e, assim, encarnarão uma nova não matéria, que fogo não é.
Será o amor, será um valor, será a moral que irá se universalizar. Será uma moral não divina, será a consciência humana do universal, que entre nós governará. O inconsciente não mais enterrará o amor nas profundezas inacessíveis, pois o consciente eternamente retornará, e, assim, apronfundará o poder do presente, o poder da justiça, que o fogo do amor esclerecerá!
Será o amor, será um valor, será a moral que irá se universalizar. Será uma moral não divina, será a consciência humana do universal, que entre nós governará. O inconsciente não mais enterrará o amor nas profundezas inacessíveis, pois o consciente eternamente retornará, e, assim, apronfundará o poder do presente, o poder da justiça, que o fogo do amor esclerecerá!
Memórias de uma despedida
Franslaide Jesus da Silveira
R. São Corado Camorado, número 600
Campo Grande - MS, Brasil.
Essa Frans, mulher da vida louca, seus braços foram quebrados e mutilados quando criança - as marcas estavam visíveis. Olho esquerdo rocho, cheia de ematomas na face - disse apenas que perdeu seu filho de dois anos e que apanhou da polícia. Não sei muito bem ao certo por que, mas sei que gostou de mim. De certa forma até me cuidou. Eu só precisava pegar um ônibus, estava indo para Bonito - MS, paraiso de belezas naturais exclusivas - lugar exclusivo aos que podem pagar por suas belezas. Ela olhava em meus olhos - tinha um olhar, apesar de surrado, doce - e dizia que era uma pessoa ruim, a mais ruim da cidade, mas dizia isso com uma bondade contraditóriamente incacreditável. Falei, para ela, de Deus - essa coisa que não sei muito bem o que é, mas que me serviu para falar do amor, da esperança de construir algo, com fé e não com sorte, mas talvez a sorte já havia moldado seu ser. Prostituta desde seus braços quebrados, disse que quando chegou em Campo Grande seu primeiro teste de emprego, emprego imposto, foi o teste da farinha, e tinha as 23 pregas que exigiam dela - mas durou pouco! disse baixando a cabeça e sentindo a dor do passado. Não sei muito bem por que, mas sei que gostou de mim. Quando eu estava para entrar no ônibus, me chamou, me beijou na testa e disse: "Vai com Deus". Pediu que eu escrevesse meu nome num pedaço de papel, escrevi. Pediu que eu escrevesse também meu endereço, entregando o seu com seu nome, para que nos encontrásse-mos um dia - não tive coragem! Beijei-a na testa e disse: "Fique com Deus", e fui calado, doendo. Me olhou, como alguém de minha família, até perder-me de vista - seu último gesto foi um beijo na mão e a mão a apertar seu coração.
Atravessei as imensas terras do Mato Grosso do Sul e senti meu coração sento metralhado, hectare por hectare, por balas de chifre de boi!
R. São Corado Camorado, número 600
Campo Grande - MS, Brasil.
Essa Frans, mulher da vida louca, seus braços foram quebrados e mutilados quando criança - as marcas estavam visíveis. Olho esquerdo rocho, cheia de ematomas na face - disse apenas que perdeu seu filho de dois anos e que apanhou da polícia. Não sei muito bem ao certo por que, mas sei que gostou de mim. De certa forma até me cuidou. Eu só precisava pegar um ônibus, estava indo para Bonito - MS, paraiso de belezas naturais exclusivas - lugar exclusivo aos que podem pagar por suas belezas. Ela olhava em meus olhos - tinha um olhar, apesar de surrado, doce - e dizia que era uma pessoa ruim, a mais ruim da cidade, mas dizia isso com uma bondade contraditóriamente incacreditável. Falei, para ela, de Deus - essa coisa que não sei muito bem o que é, mas que me serviu para falar do amor, da esperança de construir algo, com fé e não com sorte, mas talvez a sorte já havia moldado seu ser. Prostituta desde seus braços quebrados, disse que quando chegou em Campo Grande seu primeiro teste de emprego, emprego imposto, foi o teste da farinha, e tinha as 23 pregas que exigiam dela - mas durou pouco! disse baixando a cabeça e sentindo a dor do passado. Não sei muito bem por que, mas sei que gostou de mim. Quando eu estava para entrar no ônibus, me chamou, me beijou na testa e disse: "Vai com Deus". Pediu que eu escrevesse meu nome num pedaço de papel, escrevi. Pediu que eu escrevesse também meu endereço, entregando o seu com seu nome, para que nos encontrásse-mos um dia - não tive coragem! Beijei-a na testa e disse: "Fique com Deus", e fui calado, doendo. Me olhou, como alguém de minha família, até perder-me de vista - seu último gesto foi um beijo na mão e a mão a apertar seu coração.
Atravessei as imensas terras do Mato Grosso do Sul e senti meu coração sento metralhado, hectare por hectare, por balas de chifre de boi!
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
Apreensões iniciais
Já sinto saudades do teu corpo quente na cama, do teu cabelo em meu rosto, em minha boca, se enroscando em mim como se enroscavam nossas pernas. O fato de eu abrir os olhos e já tocar você me acalmava, permitia que em meu peito não pulsasse um coração tão doído. Nosso tocar silencioso saciava minha gana e minha mente. Longe de ti me preocupo bem mais, tenho a cabeça no mundo, quando não caio, em instantes de desespero, vagabundo. Tão pouco tempo e já não agüento mais drogas, bebidas e cigarros. Às vezes até amigos e mulheres me enchem. Mas quanto mais me concentro em minha busca, mais me desencanto e me descuido. Talvez fosse mais fácil só ir indo, sem busca por problemas e soluções, mas depois de tanta coisa não posso mais esquecer o que apreendi e aprendi.
Tive certa sorte na vida. Tenho 22 anos e ainda tenho pai e mãe, que moram juntos, que me cuidam e me dão segurança para seguir meus ideais, minhas vontades, meus quereres, meus dons. Tenho o poder de poder escolher sobre mim mesmo, pelo menos dentro de certos limites, pelo menos não falta comida nem teto, pelo menos posso poder estudar, posso sambar em qualquer dia da semana.
Confesso que hoje olho para mim e olho para o povo e sinto certa vergonha de mim mesmo. Por que eu posso e eles não? Por que uns sambam e outros servem? Até poderia discorrer sobre os processos históricos que desembocaram nessa condição, mas aqui e agora não é essa minha intenção.
Sinto, penso, penso, estudo, sinto, sinto, sinto muito, penso e estudo, mas minha única conclusão é: como é complexa essa ilusão, tudo isso aqui, isso que chamamos de vida, de mundo. Por que raio alguém foi um dia inventar a idéia de justiça? Seria muito mais fácil só ir indo. Mas, como diria um professor meu: Mais fácil para quem, “cara pálida”? Mais fácil para o dominador, o opressor, mas não para o dominado, o oprimido.
E aí minha moral fala: Não! Não quero participar dessa dominação, dessa opressão. Nasci podendo, mas sinto culpa por isso, sinto muito! Por que posso e outros não? Por que foram me colocar no meio dessa confusão, dessa contradição perversa?
Por instantes reprimo-me, entristeço, contraio-me, choro. Noutros instantes explodo, salto, grito, corro. Depois de tanta energia gastada e destruída, ao passar a dor e o medo, só então tenho instantes de lucidez. Digo a mim mesmo: Calma! Respira e só respira. O que pensa agora? Penso que, diante dos vários planos do poder, o único plano é olhar mais perto, é transformar o possível buscando o impossível, é plantar sementes e não simplesmente regá-las, mas chover sobre elas, cair em tempestade, em água fervente, em potência e força, em poder. Mas como matar o poder agindo por ele? Bom, fica ai uma pergunta que ainda não respondo, fica como um paradoxo. Mas um paradoxo que não me desespera como antes. Pelo menos agora tenho a força da luta, e luto também contra meu pior inimigo – eu mesmo.
Desenrolando essa luta e essa contradição, decidi então ir ver o mundo. Afinal, que adianta tanto pensar, se pensamento não é matéria – pode até encher a alma, mas não enche o bucho de ninguém. É esse o objetivo que tomei para mim – lutar por ordenar a terra, saciar sua fome, minimizar sua dor, mas não na lógica de incessante criação de necessidades do sistema capitalista. Minha decisão foi lutar por um sentido contrário. Não gosto desta palavra, pois afasta muitos que não conhecem seu verdadeiro sentido, mas é comunismo sim! É esse o sentido que a humanidade deve ter para si – o comum como um sentido comum, não matando a diversidade, mas afirmando a união, a comunhão. Apesar disso, penso que esse comunismo provavelmente estará também impregnado pela lógica do poder, mas talvez consigamos inventar uma idéia que a sobreponha. Haveremos de pensar, juntos! Por hora minha força segue o sentido da destruição, do esvaziamento, da negação, querendo matar as relações capitalistas e toda sua conseqüente solidão.
Lá vou eu mundo. Dê-me força forças profundas, que a força que me impulsiona é forçar a união de todas as forças! Hasta la religación.
Tive certa sorte na vida. Tenho 22 anos e ainda tenho pai e mãe, que moram juntos, que me cuidam e me dão segurança para seguir meus ideais, minhas vontades, meus quereres, meus dons. Tenho o poder de poder escolher sobre mim mesmo, pelo menos dentro de certos limites, pelo menos não falta comida nem teto, pelo menos posso poder estudar, posso sambar em qualquer dia da semana.
Confesso que hoje olho para mim e olho para o povo e sinto certa vergonha de mim mesmo. Por que eu posso e eles não? Por que uns sambam e outros servem? Até poderia discorrer sobre os processos históricos que desembocaram nessa condição, mas aqui e agora não é essa minha intenção.
Sinto, penso, penso, estudo, sinto, sinto, sinto muito, penso e estudo, mas minha única conclusão é: como é complexa essa ilusão, tudo isso aqui, isso que chamamos de vida, de mundo. Por que raio alguém foi um dia inventar a idéia de justiça? Seria muito mais fácil só ir indo. Mas, como diria um professor meu: Mais fácil para quem, “cara pálida”? Mais fácil para o dominador, o opressor, mas não para o dominado, o oprimido.
E aí minha moral fala: Não! Não quero participar dessa dominação, dessa opressão. Nasci podendo, mas sinto culpa por isso, sinto muito! Por que posso e outros não? Por que foram me colocar no meio dessa confusão, dessa contradição perversa?
Por instantes reprimo-me, entristeço, contraio-me, choro. Noutros instantes explodo, salto, grito, corro. Depois de tanta energia gastada e destruída, ao passar a dor e o medo, só então tenho instantes de lucidez. Digo a mim mesmo: Calma! Respira e só respira. O que pensa agora? Penso que, diante dos vários planos do poder, o único plano é olhar mais perto, é transformar o possível buscando o impossível, é plantar sementes e não simplesmente regá-las, mas chover sobre elas, cair em tempestade, em água fervente, em potência e força, em poder. Mas como matar o poder agindo por ele? Bom, fica ai uma pergunta que ainda não respondo, fica como um paradoxo. Mas um paradoxo que não me desespera como antes. Pelo menos agora tenho a força da luta, e luto também contra meu pior inimigo – eu mesmo.
Desenrolando essa luta e essa contradição, decidi então ir ver o mundo. Afinal, que adianta tanto pensar, se pensamento não é matéria – pode até encher a alma, mas não enche o bucho de ninguém. É esse o objetivo que tomei para mim – lutar por ordenar a terra, saciar sua fome, minimizar sua dor, mas não na lógica de incessante criação de necessidades do sistema capitalista. Minha decisão foi lutar por um sentido contrário. Não gosto desta palavra, pois afasta muitos que não conhecem seu verdadeiro sentido, mas é comunismo sim! É esse o sentido que a humanidade deve ter para si – o comum como um sentido comum, não matando a diversidade, mas afirmando a união, a comunhão. Apesar disso, penso que esse comunismo provavelmente estará também impregnado pela lógica do poder, mas talvez consigamos inventar uma idéia que a sobreponha. Haveremos de pensar, juntos! Por hora minha força segue o sentido da destruição, do esvaziamento, da negação, querendo matar as relações capitalistas e toda sua conseqüente solidão.
Lá vou eu mundo. Dê-me força forças profundas, que a força que me impulsiona é forçar a união de todas as forças! Hasta la religación.
Venceremos!!!
domingo, 16 de agosto de 2009
Muito bem Jasão
Você é poeta
Perigoso
Porque de repente está dando às palavras a intenção que interessa a você
Só que essa ansiedade que você diz,
Não é coisa minha não
É do infeliz do teu povo
Ele sim que anda aos trancos
Pendurado na quina dos barrancos
Seu povo é que é urgente
Coisa cega
Coração aos pulos
Pois carrega um sultão amarrado pelo umbigo
Ele, então, não tem tempo, nem amigo e nem futuro
E uma simples piada pode dar em risada ou punhalada
Com uma mesma garrafa de cachaça
Acaba em carnaval de graça
É teu povo que vive de repente
Porque não sabe o que vem pela frente
Então ele costura a fantasia
Sai fazendo fé na loteria
Se apinhando
Se esgoelando no estádio
Bebendo no gargalo
Pondo no rádio sua própria tragédia a todo volume
Morrendo por amor e por ciúme
Matando por um maço de cigarro
E se atirando de baixo do carro
Se você não agüenta essa barra
Tem mais, quer se mandar,
Se agarra na barra do manto do poderoso Creonte
E fica lá em pleno gozo de sossego, dinheiro e posição
Com aquela mulherzinha
Mas Jasão
Já lhe digo o que vai acontecer
Tem uma coisa que você vai perder
Que é a ligação que você tem com a sua gente
O cheiro dela, o cheiro da rua
Você pode dar banquete Jasão
Mas samba é que você não faz mais não
Não faz
E ai é que você se arrocha
Porque vai tentar
E sai samba ruim
Essa é a minha maldição
Gota d’água nunca mais seu Jasão
Samba, aqui ó!
Nunca
Você não engana ninguém
Nunca
Gota d’água nunca mais
Nunca...
Vai
Vai atrás dela vai
Corre
Não é essa tua grande ambição
Depressa
Bebe, come, lambe, goza
Mas se quem faz justiça nesse mundo me escutar
Esse casamento imundo não vai haver não
Por falta de esposa.
Chico Buarque e Paulo Pontes – “Monólogo do povo”.
Você é poeta
Perigoso
Porque de repente está dando às palavras a intenção que interessa a você
Só que essa ansiedade que você diz,
Não é coisa minha não
É do infeliz do teu povo
Ele sim que anda aos trancos
Pendurado na quina dos barrancos
Seu povo é que é urgente
Coisa cega
Coração aos pulos
Pois carrega um sultão amarrado pelo umbigo
Ele, então, não tem tempo, nem amigo e nem futuro
E uma simples piada pode dar em risada ou punhalada
Com uma mesma garrafa de cachaça
Acaba em carnaval de graça
É teu povo que vive de repente
Porque não sabe o que vem pela frente
Então ele costura a fantasia
Sai fazendo fé na loteria
Se apinhando
Se esgoelando no estádio
Bebendo no gargalo
Pondo no rádio sua própria tragédia a todo volume
Morrendo por amor e por ciúme
Matando por um maço de cigarro
E se atirando de baixo do carro
Se você não agüenta essa barra
Tem mais, quer se mandar,
Se agarra na barra do manto do poderoso Creonte
E fica lá em pleno gozo de sossego, dinheiro e posição
Com aquela mulherzinha
Mas Jasão
Já lhe digo o que vai acontecer
Tem uma coisa que você vai perder
Que é a ligação que você tem com a sua gente
O cheiro dela, o cheiro da rua
Você pode dar banquete Jasão
Mas samba é que você não faz mais não
Não faz
E ai é que você se arrocha
Porque vai tentar
E sai samba ruim
Essa é a minha maldição
Gota d’água nunca mais seu Jasão
Samba, aqui ó!
Nunca
Você não engana ninguém
Nunca
Gota d’água nunca mais
Nunca...
Vai
Vai atrás dela vai
Corre
Não é essa tua grande ambição
Depressa
Bebe, come, lambe, goza
Mas se quem faz justiça nesse mundo me escutar
Esse casamento imundo não vai haver não
Por falta de esposa.
Chico Buarque e Paulo Pontes – “Monólogo do povo”.
Assinar:
Postagens (Atom)